domingo, 15 de agosto de 2010

Santos - Ruy Ribeiro Couto

Nasci junto do porto ouvindo o barulho dos embarques.
0s pesados carretões de café
Sacudiam as ruas, faziam trepidar o meu berço.

Cresci junto do porto, vendo a azáfama dos embarques.
O apito triste dos cargueiros que partiam
Deixava longas ressonâncias na minha rua.

Brinquei de pegador entre os vagões das docas.
Os grãos de café, perdidos no lajedo,
Eram pedrinhas que eu atirava noutros meninos.

As grades de ferro dos armazéns, fechados à noite,
Faziam sonhar (tantas mercadorias!)
E me ensinavam a poesia do comércio.

Sou também teu filho, ó cidade marítima,
Tenho no sangue o instinto da partida,
O amor dos estrangeiros e das nações.

Oh, não me esqueças nunca, ó cidade marítima,
Que eu te trago comigo por todos os climas
E o cheiro do café me dá tua presença.


De Ruy Ribeiro Couto obtido de http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/brasil/ribeiro_couto.html


Jornalista, magistrado, diplomata, poeta, contista e romancista, Ribeiro Couto nasceu em Santos - SP (1898) e faleceu em Paris - França (1963). Foi membro da Academia Brasileira de Letras e colaborador do Jornal do Brasil e O Globo, ambos do Rio de Janeiro, e de A Província, de Pernambuco. Em "Santos" o que aparece são as reminicências de menino crescido na cidade porto, ouvindo o "triste apito" da partida dos cargueiros, abarrotados de café. O ar marinho era impregnado pelo cheiro do café. Diplomata, Ribeiro Couto correu mundo, como os cargueiros, e cultivou o "amor dos estrangeiros e das nações". Sua poesia ficou para nos inspirar, deixando "longas ressonâncias" em nossas vidas.
Nasci numa fazenda de café e cresci junto ao mar. No poema de Ribeiro Couto também pude resgatar minhas reminiscências de menino.
Por F@bio

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Céu e Mar - Cassiano Ricardo

De: Cassiano Ricardo

O dia marinheiro
todo vestido de sol branco
andava navegando com os marujos
de solavanco em solavanco
a prometer-lhes mundos nunca vistos nem sonhados

em mares nunca antes navegados

tudo por conta de outro dia
que mais adiante aparecia
e a mesma coisa prometia.

Luas marítimas, logo após,

nadavam no silêncio da amplidão
por onde a noite, caravela de carvão
levava a bordo uma porção de estrelas nuas.

Como era doída no outro dia

a dor da repetição!

Em Coletânia de Poemas de Cassiano Ricardo, Livro 2, disponível em: www.fccr.org.br

Conheci a poesia de Cassiano Ricardo ainda na adolescência e me encantei com "Gagárin" (veja abaixo), da sua fase concretista.  Jornalista, poeta e ensaísta nascido em São José dos Campos - SP (1895). Estudou em São Paulo e Rio de Janeiro. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Transitou do simbolismo ao modernismo e concretismo. Foi um ativista incansável. No modernismo participou dos grupos "Verde Amarelo" e "Anta". Trabalhou nos jornais Correio Paulistando (SP) e A Manhã (RJ). Fundou as revistas: Novíssima e Planalto. Foi das Academias Paulista de Letras e Brasileira de Letras. Com Céu e Mar, Cassiano Ricardo me permite enriquecer este blog com mais um belo poema e vesti-lo de sol branco, iluminado pelo grande poeta sãojoanense. 
Por F@bio